Ano, 1982, o jovem Ademir da Costa, na época com 21 anos de idade, recebe o convite do Mestre Masutatsu Oyama para disputar o 14º Campeonato Japonês que aconteceria em Tokyo-Japão.
A participação no evento era parte de seu intercambio de 3 meses no Japão, onde ficou como Uchideshi (aluno interno) na Hombu (Matriz mundial) treinando todos os dias até o evento.
Kancho Ademir conta que estava apreensivo para a competição, visto que enfrentaria o atual campeão mundial e atual campeão japones, Makoto Nakamura, de 1.80m e 130kg.
Nakamura era conhecido por literalmente atropelar seus adversários, utilizando-se de toda sua força bruta para inibir os adversários e buscar sempre o nocaute.
Momentos antes da luta, Ademir recebe uma provocação de Nakamura, que mesmo não entendo japonês, percebeu o olhar de desprezo do campeão, e o que era pra se tornar uma intimidação, virou combustível para vencer a luta.
O combate inciou-se com Nakamura impondo seu estilo avassalador, pressionando a todo momento o jovem Ademir da Costa, que inteligentemente não confrontou diretamente seu oponente, pois sabia que com seus 74kg seria impossível combater de frente um oponente com 130kg.
Ademir utilizou-se de técnicas de esquivas e contra-ataques, aplicando por diversas vezes o seu famoso "Mae" Mawashi Geri (um mawashi geri que mudava de trajetória no meio do caminho tornando a defesa muito difícil), acertando Nakamura por diversas vezes, chegando a ocasionar um corte na sua boca.
Nakamura por sua vez não conseguia "achar" seu oponente, desferindo golpes que não atingiam Ademir, e os golpes que entravam, não surtiam o efeito esperado.
Há um empate 1º round de 3min, e a luta se estende pelo 2º round, onde ambos permanecem na mesma estratégia. Ademir conseguiu anular com sua técnica, a força de Nakamura. Um novo empate acontece, e incia-se o 3º e decisivo round.
Nakamura tinha que ir pro tudo ou nada, mais um empate, e a decisão seria na balança, o atleta que tivesse 10kg a menos, venceria a luta. Nakamura não podia perder, afinal, ele era o atual campeão japones e atual campeão mundial.
A estratégia adotada por Nakamura permanece, um pouco mais agressivo, ele coloca mais pressão na luta, golpeia buscando o nocaute, porém sem a efetividade desejada, Nakamura se ve diante de um problema, e é nesse momento que ele se desequilibra emocionalmente e desfere propositalmente, dois socos no rosto de Ademir da Costa (o que seria proibido pelas regras devido a não utilização de luvas) tentando com isso, desestabilizar, intimidar e tirar toda a energia do seu adversário.
Ademir sente o golpe, ajoelha-se e logo levanta, e imediatamente volta a luta. É descontado o primeiro 1/2 ponto de Nakamura, que a partir desse momento via cada vez mais longe a possibilidade de sua vitória.
A luta recomeça, e Nakamura não pensa duas vezes em cometer novamente uma falta, só que dessa vez mais contundente, desferindo dois socos consecutivos no rosto de Ademir...
Desta vez é possível ouvir o público japonês vaiar seu representante, que estava lutando de forma desonrosa com o participante estrangeiro.
Ademir sente um pouco mais dessa vez, mas movido pela fome de vitória não perde tempo, se recompõe rapidamente e está pronto novamente pra luta.
Ouve-se o aplauso do público japonês, ao ver o estrangeiro, menor, mais leve, honrar a luta e permanecer de pé, diante do campeão mundial, não se abalando com suas intimidações e falta de respeito as regras e ao público.
Falta pouco para o fim do embate, e o desespero de Nakamura aumenta, e Ademir nitidamente sente o gosto da vitória mais próximo.
A luta termina, sob aplausos do público japonês, e segundos depois, um silêncio toma conta do ginásio, a decisão dos juízes está por vir!
O clima é tenso, a vitória de Ademir era nítida, porém, como dar a vitória a um estrangeiro, de 19 anos, em um campeonato japonês, sobre o atual campeão japonês e mundial? Tudo isso, em frente ao público japonês, e ao Mestre Masutatsu Oyama. Era muita pressão para os juízes.
O árbitro central dá o comando, solicitando aos juízes a decisão final da luta. Duas bandeiras se levantam para Ademir, duas bandeiras se cruzam, mostrando empate na luta.
A decisão fica nas mãos do juiz central, que tem uma difícil decisão, o seu voto, poderia empatar a luta, o que pelas regras daria a vitória por peso a Ademir, ou ele poderia dar o voto a Ademir, totalizando 3 votos fazendo com que vencesse o 3º round.
Neste momento o juíz inicia a contagem, olha para Masutasu Oyama, abaixa a cabeça, e dá a vitória a Ademir da Costa, que sob o aplauso do público japonês, marca a história do Karate mundial, impondo a primeira derrota de Makoto Nakamura a um estrangeiro, e também projetando uma promessa como futuro campeão mundial, o estrangeiro Ademir da Costa.
Na luta seguinte, Ademir, tem pela frente Toshio Mizuguchi, de 74kg, porém, Ademir estava novamente diante de um grande embate.
Em 1982, era totalmente fora de cogitação, um estrangeiro vencer o campeonato japonês, ainda mais, eliminando o atual campeão mundial.
Mizuguchi tinha uma grande missão pela frente, defender seu país diante do então desconhecido (para os japoneses) estrangeiro
Ademir e Mizuguchi lutam por três longos rounds, sendo uma luta parelha, e que havendo um terceiro empate, a luta seria decidida por peso.
Como Ademir e Mizuguchi pesavam praticamente igual (74 e 72 respectivamente) haveria um novo empate por peso, e o próximo critério de decisão seria o tameshiwari (quebramento de tábuas), o qual o atleta que havia quebrado mais tábuas na somatória, venceria a luta.
Ademir sabia que tinha uma vantagem no tameshiwari de 2 tábuas a mais, ou seja, caso a luta empatasse, o peso também empataria, mas ele venceria por ter quebrado mais tábuas.
O problema era que ele sabia, e Sosai Masutatsu Oyama também, e como o que se desenhava ali, era a vitória de Ademir, Mestre Mas Oyama resolveu mudar as regras a partir daquele momento, e a diferença de peso que era de 10kg, passou a ser apenas 1kg, e com isso, Mizuguchi "vence" o combate.
Ademir se classifica em 6º lugar neste evento, e ainda recebe das mãos do Mestre Masutasu Oyama, o troféu Kantoshô, oferecido ao atleta que mais se destacou no evento pela técnica e garra.
Após esse evento, e demonstrando mais uma vez sua qualidade técnica e garra, Ademir da Costa tornava-se um potencial futuro campeão mundial em 1984, no 3º campeonato mundial de Karate Kyokushin em Tokyo-Japão.
Assista a luta completa no link abaixo
